American Boy

Um deus grego entrou no departamento e a mulherada quase enfartou. Alto, de pele clara mas com aquele leve bronze de quem pega sol esporadicamente, aquele homem era digno de contemplação. Tinha a barba perfeita e os cabelos escuros bem cortados, uns olhos grandes e o sorriso largo. A voz retumbava a cada “muito prazer” que ele dirigia a quem ia conhecendo.

O cara era uma obra-prima da natureza, e iria desfilar pelos corredores da empresa arrancando suspiros das minhas colegas de trabalho – delas, porque eu sempre fui lesada demais pra me empolgar com os gatos que passam por mim, né.

Acabou que o cigarro nos aproximou e eu fui a primeira amizade que ele fez por lá. Engatamos altos papos filosóficos e com o tempo viramos amigos próximos. O bofe era, além de lindo, um lorde.

Aí chegamos naquele estágio de trocar confidências, aqueles conhecidos papos sobre relacionamentos amorosos e tal. Enquanto eu contava minhas mazelas, ele ficava indignado e dizia que eu merecia algo melhor. Por sua vez, me contava suas próprias dores do coração, mas sempre sem nomes – apenas fatos.

Numa tarde qualquer fomos até o fumódromo e ele quis que eu escutasse um som que ele pirava. Lembro dele me dizendo naquele dia “ai para, você já sabia, vai”, enquanto a gente entortava de tanto rir da cara das meninas que paqueravam ele na caruda. Isso porque ele acabava de me revelar que era gay e que elas não tinham a mínima chance. Pobres sonhadoras!

Música: American Boy (Estelle)