Total Eclipse Of The Heart

No começo dos anos 90, minha mãe fazia Aeróbica numa academia do bairro onde morávamos e vez ou outra me levava para assistir suas aulas. Eu ficava no canto da sala, vendo a mulherada fazer o circuito (assim chamavam as coreografias). Com o tempo, já imitava os passos e atormentava minha mãe para me matricular também. Como eu era criança não pude entrar na Aeróbica, então fiquei no Balé. Minha feliz surpresa foi descobrir que era a mesma professora que dava as duas aulas; o nome dela era Denise.

Foi um horror fazer Balé. Pouca dança, muito sofrimento. Lembro claramente da Denise colocando o peso de seu corpo nas nossas costas para forçar a nossa abertura até o chão. E deixa eu contar um detalhe: ela tinha músculos de fisiculturista!

Minhas preces então foram atendidas porque abriram uma turma de Jazz. Gostei de tudo, começando pela roupa preta no lugar da rosinha do Balé. Passávamos a aula inteira ensaiando uma coreografia e para completar a Denise escolheu esse som dos anos 80 que eu adorava: Total Eclipse Of The Heart. Só que o que rolou pouco tempo depois foi bem triste.

A professora foi demitida da academia e até hoje não sei o que aconteceu, só sei que do dia para a noite ela sumiu do mapa. Mesmo assim, guardo a lembrança dessa época com muito carinho, pois a Denise me ensinou a gostar de dançar. Lembro até hoje do perfume esquisito que ela usava e ainda lembro de alguns passos da coreografia dessa canção.

Música: Total Eclipse Of The Heart (Bonnie Tyler)

Latch

Depois de algumas noites compartilhadas, ele resolveu sumir. Foram dez dias de mensagens minhas ignoradas e de nó na garganta. Mas um amigo em comum (o mesmo que nos apresentou) fazia aniversário e eu precisava encarar o inevitável reencontro na festa.

Arrastei meu corpo até a pizzaria, cheguei antes de todo mundo. A hora passou, algumas das melhores cervejas mexicanas entraram no jogo, e então ele apareceu. Acompanhado de um cara e de uma garota. Suei frio.

Nos cumprimentamos mantendo a pose e ele me apresentou aos amigos que vinham de outra cidade. Misteriosamente, o santo da nova amiga bateu com o meu e ficamos trocando altas ideias, até que ele veio chamar a menina pra seguir o rolê em outro lugar. Ela insistiu que eu fosse junto e eu tomei a má decisão de entrar no carro com eles rumo ao desconhecido.

Já na tal balada e no meio dessa puta saia-justa, vi que nem eu nem ele sabíamos como gerenciar aquela situação. Ele seguiu conversando num canto com o amigo e eu fui dançar com a amiga, que parecia super animada pra desbravar a noite da Cidade do México. Continuei bebendo pra me anestesiar de toda aquela cena surreal em que me meti.

Aí quando começou a tocar justo essa música, ele apareceu na minha frente, dançando de um jeito tão perfeito que me fez gaguejar antes de tentar dançar junto. Lembro bem do rosto dele com as luzes coloridas, do olhar fixo em mim, da mão dele me puxando pra perto…

Lembro também dos três dias que passamos internados no meu quarto depois desse rolê. E das inúmeras tentativas de nos afastarmos durante os quase cinco anos de muitos sentimentos loucos. Até agora eu não entendi o que ele fez pro meu coração bater fora do peito, como diz a canção.

Música: Latch (Disclosure)