A Little Respect

A gente havia acabado de reatar nosso romance, mas ele seguia vivendo em outra cidade e aquilo era uma merda. Eu sempre fui a trouxa que movia mundos e fundos pra ir até ele, e lá fui eu mais uma vez comprar passagem de avião e sair do trabalho na correria de uma tarde de sexta-feira pra voar por uma hora e meia até aquele fim de mundo que ele chamava de “a cidade do meu pai”.

O vôo atrasou (como era tradição já) e a ansiedade me arrastou até o Cinnabon do aeroporto pra comer um rolo de canela digno de um prêmio, passando na sequência pela Starbucks por um Chai Latte, na esperança do atendente preparar direitinho. Fiquei só na esperança mesmo.

Finalmente embarquei, me acomodei no assento da classe econômica e dei graças ao Universo por deixar as duas poltronas da minha fileira vazias. O avião decolou logo, mas depois de uns quarenta minutos no ar comecei a sentir um frio na barriga. Achei que estava emocionada por estar prestes a rever meu ex ex-namorado, então segui com os fones na orelha ouvindo uma lista randômica no talo, mas notei a aeromoça (desculpa, mas comissária de bordo é muito impessoal pra mim) gesticulando freneticamente no corredor.

Nem deu tempo de pausar a música pra ouvir o que ela dizia porque me senti imediatamente numa batedeira. Começamos a passar por uma turbulência monstra e eu já logo fui trocando ideia com Deus, bem indignada por achar que ia morrer antes de reconciliar com aquele homem depois de tanta treta. Não era justo, porra.

Então tocou Erasure na minha orelha, e eu tomei uma decisão vital. Subi o volume, apertei o cinto e passei pelo chacoalhão me segurando na poltrona e cantando loucamente “Oh, baby, pleeeeeease give a little respect toooooo meeeeee”. Chegando na cidadezinha, quis imediatamente voltar pra turbulência. Que fase.

Música: A Little Respect (Erasure)