Kiss And Say Goodbye

Ontem foi 22 de março, meu nono dia de quarentena aqui em casa.

Reunimos a família pra desenterrar memórias felizes de uma caixa gigante de fotos antigas. Entre muitas imagens, um personagem da minha vida se destacou: meu segundo namorado, o primeiro em muitas coisas pra mim.

Lembrei do começo, da gente se encontrando no Shopping Jabaquara, onde ele trabalhava. Ele tinha me ligado uns dias antes pedindo pra gente conversar e a conversa era um pedido de namoro. Eu nunca tinha me sentido tão feliz como naquela quarta-feira, parecia que eu ia explodir. O moleque mais bonito da escola quis namorar comigo, essa menina toda desajeitada.

Minha vida de adolescente tava bombando. Era fã da Babalu e do Raí na novela Quatro Por Quatro. Estava mudando de escola, conhecendo novos amigos e me preparando pra grande mudança que seria o ensino médio, ou como a gente chamava antes: o colegial. E depois de passar a vida toda dormindo com meus pais ou com meus avós, eu ganhei meu quarto (o único com escada caracol e varanda na casa).

Enquanto isso a gente seguia junto, dois cabeludos (eu por não ligar muito, ele por ser fã de Nirvana) por aí. As nossas famílias se deram bem de cara e todo mundo achava graça na gente de namorico. Juntos, fomos a muitos lugares e nos divertimos muito. Estivemos na formatura de oitava série um do outro e permanecemos nos álbuns de fotografias oficiais das nossas escolas assim, como aquele casal fofo.

A gente descobriu muita coisa juntos. As primeiras mãos bobas, a primeira vez. A primeira crise de ciúmes, a primeira discussão. A primeira traição, as primeiras pazes. O primeiro colegial, o primeiro emprego. E mais tarde, a primeira surra que eu tomei de um macho.

Ontem foi 22 de março, o dia gravado na minha primeira aliança de namoro em 1995.

Música: Kiss And Say Goodbye (N-Phase)

Spending My Time

Recebi a notícia da morte da Marie, vocal do Roxette, ontem. Fiquei chateada, afinal 61 anos me parece pouco pra uma vida. Mas é o que é. Parei pra lembrar do legado dela com o Roxette, das músicas que marcaram minha vida, e encontrei esse som. ‘Spending My Time’ provavelmente foi a primeira canção com sentido de romance pra mim.

Eu era uma criança de 10 anos vivendo numa vizinhança com garotas mais velhas, que já pensavam em namorar. Eu queria mais era brincar, e com elas rolavam partidas de Taco na rua e disputas no Atari da vizinha. Apesar de sempre me queimarem na cara jogando Queimada e de me detonarem no videogame, eu curtia ter essa turma pra chamar de minha. Só que a pré-adolescência delas gritava e já envolvia garotos.

Aí brotou do nada um menino de 15 anos chamado Luciano, que foi morar com uma tia dele na mesma rua que a gente. Quando a novidade chegou, as meninas surtaram. Todas ficaram apaixonadas pelo boy quase que imediatamente, e começou uma louca disputa pela atenção dele.

Naquela época, não se falava em ficar: ou você namorava sério ou era chamada de galinha, não tinha test drive nem meio termo. O boy espertinho começou a engabelar a mulherada naquela brincadeira Cai No Poço (a.k.a. Salada Mista em outras regiões). Beijou todas fazendo esquema pra ser avisado quando era a que ele queria, menos eu. Daniella, 10 anos, escoteira e competitiva pra caralho, nunca se deixava pegar porque jogo é jogo, parceiro. Mandrake Beijinho era outra brincadeira onde o objetivo era beijar e não ganhar, mas eu era caxias e ninguém me encontrava desprevenida. E foi assim que segui como a BV do rolê sem me ligar do que tava acontecendo ali.

Um dia, o Luciano foi colocado na parede por todas as meninas da rua, que queriam saber com quem ele ia namorar. Eis que o cara lança meu nome na roda e o espanto é geral. Eu tava ali, chocada, mas feliz por ser escolhida pra alguma coisa, mesmo sem ter ideia do tinha que fazer. O moleque de 15 anos me pediu em namoro, e eu com meus 10 anos de pura maturidade disse a ele que ia perguntar pros meus pais se eu podia namorar. E foi isso que eu fiz, perguntei… Através de uma cartinha que coloquei embaixo da porta do quarto, morta de vergonha por tocar nesse assunto em casa pela primeira vez.

No dia seguinte, sem muito rodeio, minha mãe me avisou que eu não podia namorar porque ainda era uma criança e porque o menino era muito mais velho do que eu. Sem questionar, fui na rua, procurei o Luciano e mandei a letra. Ele ficou chateado na hora, mas minutos depois já tava jogando bola com os moleques da rua. E eu voltei pra casa e tentei processar tudo aquilo. Foi aí que eu me apaixonei, e que tive minha primeira desilusão amorosa (se assim podemos chamar meu estado de #chatyada).

Sentada na minha cama, chorei loucamente ouvindo Roxette, como se entendesse alguma coisa sobre paixão. E essa foi a minha iniciação no mundo do faz-de-conta do romantismo. Credo, que delícia.

Música: Spending My Time (Roxette)